Carros, viagens e ostentação: quem é o narcotraficante brasileiro preso após mulher publicar localização em rede social
08/07/2024
(Foto: Reprodução) Ronald Roland é um dos investigados na Operação "Terra Fértil", que mira grupo especializado em lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e tráfico internacional de drogas. Em cinco anos, segundo a polícia, ele movimentou uma fortuna de R$ 5 bilhões. Esposa de Ronald, à esquerda, exibia vida de luxo com o marido nas redes sociais
Reprodução/Arquivo pessoal
Carros de luxo, jatos particulares, viagens com muita ostentação e várias fotos divulgadas nas redes sociais da esposa. Essa era a rotina do narcotraficante brasileiro Ronald Roland, suspeito de abastecer cartéis de drogas no México e de comandar um mega esquema de lavagem de dinheiro com empresas de fachada.
Crimes contra a ordem econômica e tributária, corrupção ativa, falsidade material e ideológica, organização criminosa, lavagem de dinheiro e envolvimento com o tráfico internacional de drogas, são algumas das acusações que o narcotraficante de 50 anos reúne em sua extensa ficha criminal.
Até os anos 2000, Ronald era investigado pela Polícia Civil de São Paulo por crimes contra a ordem econômica. A partir de 2012, já como piloto de avião, passou a ser monitorado pela Polícia Federal por envolvimento com o tráfico internacional de drogas.
O delegado da Polícia Federal (PF) e responsável pela operação, Felipe Garcia, explicou que Ronald Roland se tornou alvo da Operação Terra Fértil após se mudar para Uberlândia, no Triângulo Mineiro, e ostentar carros de luxo no condomínio em que morava com a família.
"Em um dia você tem, por exemplo, ele chegando em casa com um veículo de R$ 500 mil. Uma semana depois, ele está com um veículo de R$ 1 milhão, outra semana com um de R$ 800 mil. Isso chamou a atenção da vizinhança", afirmou Felipe Garcia.
Casa e carros luxuosos: narcotraficante brasileiro movimentou R$ 5 bilhões em 5 anos
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Histórico de crimes
Os primeiros registros policiais de Ronald são do ano 2000, quando foi investigado por crimes de ordem econômica, principalmente, relacionado ao ramo dos postos de combustíveis.
Em 2011, ele entrou no radar da Polícia Federal até que, em 2014, foi deflagrada a Operação Veraneio, que investigou uma quadrilha que adulterava aviões para o tráfico. Foi a primeira vez que Roland foi citado em uma operação da PF. Depois dela, ele figurou em outras três operações também em âmbito federal.
Em 2015, foi investigado pela Operação Dona Bárbara, que desmantelou atividades de narcotraficantes brasileiros vinculados às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
Em 2019, pela Operação Flak, cujos alvos eram suspeitos de transportar drogas para o Brasil, os EUA e a Europa. Durante esta operação, a Justiça Federal do Tocantins ordenou a inclusão de nomes de 11 foragidos na lista da Interpol, incluindo Roland.
Em 2021, pela Operação Fluxo Capital que, similar à Terra Fértil, investigou no Paraná uma associação criminosa suspeita de lavar dinheiro e movimentar milhões de reais usando laranjas, empresas de fachada e contadores.
Em todas as operações, Roland era citado como responsável pela aquisição e preparação das aeronaves para o transporte de cocaína, além de lavar o dinheiro.
"Nós enxergamos dois momentos. Um primeiro em que a atuação de Roland era muito voltada para crimes contra a ordem econômica e tributária, muita sonegação. Ele recebeu até uma condenação em virtude disso. E depois, nas operações, passa-se a verificar o envolvimento dele com narcotráfico", explica Garcia.
Vida de luxo em Uberlândia
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A vida que Roland levava em Uberlândia, para onde se mudou em 2020, foi o que desencadeou a operação, que terminou com a prisão dele e de outras sete pessoas.
Apesar de ser uma pessoa "discreta", segundo o delegado, a presença dos carros, mesmo em um condomínio de luxo da cidade mineira, e as viagens exibidas pela esposa nas redes sociais foram o estopim para a investigação federal.
"Após a chegada dessas informações, a PF passou a analisar mais de perto a situação, observar, verificar quem seria essa pessoa que se mudou para Uberlândia. Foi aí que se constatou que era Ronald Roland", disse o delegado.
Considerado foragido, Roland foi localizado quando a esposa postou no Instagram a localização do restaurante em que almoçavam.
Ele, a mulher e a filha estavam dormindo quando os policiais chegaram. Depois de dois anos, o cerco a Ronald chegou ao fim.
Carros de luxo levantaram suspeitas
Polícia Federal/Divulgação
Investigações
Na continuação das investigações, foi constatado que a casa avaliada em R$ 2,5 milhões onde Roland vivia teria sido adquirida por uma empresa proprietária de dezenas de veículos.
"Notamos muitas discrepâncias. Uma das sócias da empresa trabalhava numa cooperativa de crédito do Paraguai e recebia R$ 1 mil por mês", explicou Garcia.
As investigações descobriram também que, assim que chegou em Uberlândia, Roland se associou a outras pessoas da região, constituiu empresas e passou a utilizá-las para lavagem de dinheiro da organização criminosa.
Segundo a PF, a loja de biquínis que a esposa de Roland possui no Guarujá (SP) também era usada no esquema de lavagem de dinheiro e recebia diversas quantias em um único dia, que eram usadas para adquirir itens de luxo, dentre eles um jato avaliado em R$ 3 milhões. A mulher também foi alvo da operação.
Durante a operação foram constatadas, ainda, a organização da quadrilha, que contava com a separação dos membros em diferentes núcleos para funcionar. Ao todo, eram cerca de 200 envolvidos, sendo em sua grande maioria formada por laranjas.
"Um núcleo operacionalizava essa organização criminosa, constituída para lavagem de dinheiro. Outro núcleo era o contábil, que era responsável pela contabilidade e pela cooptação de laranjas para a construção das empresas. Tinha núcleo financeiro que era construído por pessoas responsáveis por empresas que recebiam o dinheiro de outras e dali tinha grande encaminhamento para criptomoedas, por exemplo".
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Ronald Roland, portanto, começa a ser investigado pela Polícia Federal no contexto das investigações de grandes narcotraficantes.
"O que é que se tinha? Grandes narcotraficantes sendo investigados e Ronald aparecendo tangenciando essas operações. Ele nunca foi o alvo principal das operações, mas em algum momento aparecia nos trabalhos", contou o delegado.
A PF acredita, com base nas quatro operações anteriores à Terra Fértil, que Roland se associava a outros pilotos para auxiliar narcotraficantes internacionais no transporte de drogas.
Por não ser o alvo principal das operações, contudo, a polícia considera Roland um criminoso que agia nos bastidores.
"Ele é uma pessoa altamente cautelosa. Ele em si nunca apareceu fazendo o transporte, em filmagens, sendo preso lá fora. Sempre foi uma pessoa de bastidores. De logística, um cérebro", explica Garcia.
Um dos jatos da quadrilha apreendidos pela PF avião jato uberlândia quadrilha 5 bilhões
Polícia Federal/Divulgação
Relembre
No dia 2 de julho, a operação Terra Fértil cumpriu nove mandados de prisão preventiva e 80 de busca e apreensão, além de outras medidas cautelares, como sequestro de bens e bloqueio de contas em sete estados do Brasil: Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Bahia e Goiás.
Em Uberlândia foram cumpridos sete mandados de busca e apreensão e quatro de prisão. As investigações identificaram transações suspeitas com movimentação de mais de R$ 5,5 bilhões, decorrentes de atividades ilícitas no período de pouco mais de 5 anos.
Na quinta-feira (4), outro mandado de busca e apreensão foi cumprido no escritório de um empresário no Bairro Nossa Senhora Aparecida, também em Uberlândia. O nome do empresário não foi divulgado.
Estima-se que o montante dos valores ilegalmente movimentados pela organização criminosa seja de mais de R$ 5 bilhões no período de pouco mais de 5 anos.
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