A outra corrida espacial: por que somos obcecados em mandar objetos para a órbita da Terra

  • 16/10/2025
(Foto: Reprodução)
Veja como foi o pouso da 11ª missão da Starship, maior nave do mundo Além da corrida com fins científicos, comerciais e militares, há outra corrida espacial de um tipo mais curioso. Uma corrida para ser o primeiro a enviar vários objetos para lá. Mas por quê? Em dezembro de 2024, monges budistas do Japão tentaram, sem sucesso, enviar um pequeno templo a bordo de um satélite para a órbita da Terra. O foguete chegou a mais de 110 km da Terra, tornando-se a primeira vez que o Dainichi Nyorai (o Buda do Cosmos) e a mandala foram transportados para o espaço sideral. Os monges esperam tentar colocá-los em órbita novamente no futuro. O templo espacial tem o tamanho de uma caixa de entrega média da Amazon e é coberto por uma folha protetora dourada. O Buda fica sentado em um compartimento especial no seu topo. A ideia é que, com um número crescente de japoneses vivendo fora do Japão, as orações pelos entes queridos falecidos possam ser transmitidas ao Buda quando ele passar pelo céu. Ser o primeiro é importante. Os seres humanos parecem ter uma preferência inata por ser os primeiros, sendo até mais propensos a escolher as primeiras opções ao serem apresentados a uma lista. É tentador explicar isso recorrendo ao que o médico austríaco Alfred Adler chamou de “complexo de inferioridade” – uma necessidade de continuar provando nosso valor. Mas isso também pode ser simplesmente uma característica evolutiva que era genuinamente útil no passado, e que se transformou em preferências modernas mais curiosas, como esperar mais do primeiro filho ou votar no primeiro candidato da lista. Além disso, por meio do que o biólogo Ernst Mayr chamou de “efeito fundador”, os pioneiros exercem uma influência desproporcional sobre o que acontece posteriormente. A ideia original de Mayr era sobre genética populacional, e como os fundadores de uma população de organismos podem restringir a diversidade posterior. Mas o conceito tem sido aplicado de forma mais ampla para explicar por que aqueles que chegam ou agem primeiro tendem a ter uma influência desproporcional sobre os agentes posteriores. Visto dessa forma, faz todo o sentido que as pessoas queiram ser as primeiras a enviar algo para o espaço. Mas a escolha dos objetos enviados nem sempre é tão óbvia. Ou melhor, há uma escala variável que vai do compreensível ao totalmente estranho. Sobrevoo da Starship antes de pouso no Oceano Índico Reprodução/SpaceX Imortalidade, nostalgia e alienígenas No extremo compreensível da escala, temos restos mortais de humanos, animais de estimação e até dinossauros. Não são pedaços grandes, apenas fios de cabelo ou cinzas. Uma empresa chamada Celestis vem enviando cinzas e DNA para o espaço desde 1994. Em 1997, ela enviou os restos mortais cremados de 24 pessoas, incluindo do criador de Star Trek, Gene Roddenbery, no que foi chamado de “Voo dos Fundadores”. Foi o primeiro voo memorial funerário ao espaço. Cinco anos depois, porém, os restos mortais caíram acidentalmente da órbita. Mas mesmo com essa queima acidental, os parentes podem sentir que seus entes queridos alcançaram uma espécie de imortalidade. Afinal, eles foram os primeiros. Algo semelhante se aplica aos animais de estimação. Um lançamento fracassado em janeiro de 2024 incluiu mais restos de Gene Roddenberry e restos parciais de um cão chamado Indica-Noodle Fabiano. Homenagear os mortos no espaço é uma ideia particularmente popular. Mesmo a missão Apollo 15 deixou uma placa memorial a astronautas falecidos em Hadley Rille, na Lua, em 1971. Da mesma forma, em várias ocasiões, enviamos ossos de dinossauros temporariamente para a órbita. A inclusão de um fragmento de T.rex em um voo da cápsula Órion, da Nasa, em 2014 foi justificada “como uma lembrança de quanta vida a Terra viu durante sua existência”. Isso revela uma razão mais profunda e emocional pela qual queremos enviar coisas para o espaço. Junto com a busca por ser o primeiro, esses itens podem ser símbolos de imortalidade. Eles também podem nascer da nostalgia. Por que mais desejaríamos que a vida passada na Terra deixasse um rastro contínuo? Outros itens são mais difíceis de entender. Em dezembro, uma empresa chamada beingAI planeja enviar um disco de níquel à Lua. O disco terá impressa uma imagem digital de uma sacerdotisa budista em treinamento chamada Emi Jido. E não há apenas mensagens budistas no espaço. Por exemplo, o segmento russo da Estação Espacial Internacional contém toda uma coleção de iconografia religiosa ortodoxa. Mas qual é o sentido de ter mensagens religiosas no espaço se não há ninguém lá para lê-las? Isso revela outra intenção: esperamos que, eventualmente, uma mensagem viaje longe o suficiente para alcançar outra forma de vida. Deixando uma marca Da mesma forma, não faz muito sentido transmitir a Poética Vaginal, um sinal fraco de contrações vaginais convertidas transmitido na direção da constelação de Eridanis pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts em 1986. A Força Aérea dos Estados Unidos, que controlava as instalações terrestres, interveio rapidamente antes que uma transmissão mais forte pudesse ser enviada. E é francamente estranho que um convite para uma apresentação da ópera Klingon tenha sido enviado para Arcturus, na constelação de Boötes, em 2010, com o convite escrito em Klingon (uma língua fictícia da série Star Trek). Em vez de uma mensagem representativa da nossa cultura, isso se aproximou mais de uma desinformação cósmica. No caso mais conhecido de objetos estranhos enviados ao espaço, Elon Musk lançou seu carro esportivo Tesla Roadster vermelho-cereja em 2018, completo com um manequim no banco do motorista e a música Space Oddity, de David Bowie, tocando no rádio do carro. Atualmente, ele está a cerca de 248 milhões de km da Terra. Essas coisas podem revelar mais uma razão pela qual enviamos coisas para o espaço que tem menos a ver com imortalidade, nostalgia, comunicação com alienígenas ou ser o primeiro. Objetos que parecem inúteis por si só ainda são uma declaração de intenções. É como colocar uma toalha em uma espreguiçadeira que você não está pronto para usar, mas voltará mais tarde. A infraestrutura espacial dependerá, em última instância, da mineração do cinturão de asteróides entre Marte e Júpiter. E a órbita do Roadster de Musk cruza e recruza a órbita de Marte enquanto viaja ao redor do Sol. De fato, sabemos que a Lua, Marte e algumas pequenas distâncias além deles podem ser partes importantes do futuro próximo da Humanidade. Não apenas para aplicações científicas, comerciais e militares, mas também para nossa civilização como um todo. Ainda não descobrimos o que faremos com todo esse espaço e como acabaremos preenchendo-o com nossa humanidade. Os objetos curiosos que enviamos também podem ser vistos como uma declaração de intenção de usar os locais onde eles acabam, mesmo que seu uso permaneça indeterminado. Tony Milligan recebeu financiamento do European Research Council (ERC) no âmbito do programa de pesquisa e inovação Horizon 2020 da União Europeia (Acordo de subvenção n.º 856543).

FONTE: https://g1.globo.com/ciencia/noticia/2025/10/16/a-outra-corrida-espacial-por-que-somos-obcecados-em-mandar-objetos-para-a-orbita-da-terra.ghtml


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