113 Sul: 'Voz de um inocente foi escutada', diz irmã de Francisco Mairlon após STJ anular condenação; ele passou 15 anos preso

  • 14/10/2025
(Foto: Reprodução)
Irmãos de Francisco Mairlon comemoram após STJ anular condenação. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) anulou nesta terça-feira (14) a condenação de Francisco Mairlon Barros Aguiar. Ele passou 15 anos preso, após ser apontado como um dos executores do "Crime da 113 Sul". Após a decisão, os irmãos de Francisco Mairlon, ambos advogados, falaram ao g1 (veja vídeo acima). A irmã Maria Nayara Barros, emocionada, afirmou que sempre acreditou na inocência de Mairlon. "A voz de um inocente foi escutada, eu acreditava e nunca vou deixar de acreditar na inocência do meu irmão. Lutei muito para esse dia acontecer. Só quero ver meu irmão livre", diz a advogada Maria Nayara Barros. Irmãos de Francisco Mairlon falam após STJ anular condenação dele. Ygor Wolf/g1 O irmão José Vitor Barros agradeceu à ONG Innocence Project e afirmou que "a ficha ainda não caiu". "A família toda lutou tanto pela inocência dele e hoje a gente obteve um grande resultado. Ainda não caiu a ficha", diz o advogado. 113 Sul: Sessão da Sexta Turma do STJ julga pedido de soltura de Francisco Mairlon STJ/Reprodução Francisco Mairlon deverá ser colocado em liberdade imediatamente – o que deve acontecer nos próximos dias, após a publicação do acórdão e a notificação da Vara de Execuções Penais do DF. Na decisão, os ministros também trancaram a ação penal e anularam o processo desde o início. Ou seja: Francisco Mairlon, agora, não é nem condenado nem réu pelo crime. Crime da 113 Sul: irmãs de Francisco Mairlon Aguiar comemoram emocionadas decisão do STJ. O triplo homicídio ocorrido em Brasília em 2009, ainda vivo na memória dos moradores da capital, ganhou série documental no Globoplay. A decisão foi tomada com base em um pedido da ONG Innocence Project — organização internacional que busca reparar erros judiciais —, que assumiu a defesa de Mairlon. Segundo a defesa, os depoimentos que incluíram Francisco Mairlon na cena do crime, dados pelo próprio Mairlon e pelo réu Paulo Cardoso Santana, foram colhidos mediante pressão e intimidação. 📱Baixe o app do g1 para ver notícias do DF em tempo real e de graça O Tribunal de Justiça do Distrito Federal tinha negado uma revisão do processo e, por isso, o caso passou à análise do STJ. O Ministério Público do DF pode recorrer da decisão. 113 Sul: executores mudaram depoimentos e disseram ter sido torturados pela polícia para confessar O que disse a defesa de Mairlon A única a falar antes dos votos foi a advogada Flávia Rahal Bresser Pereira, que representa a ONG. A Innocence Project pede a anulação da condenação e a soltura de Mairlon, que está há quase 15 anos na Papuda. "Ao longo das 16 mil páginas e dos quatro anos, ao longo dos quais o Innocente Project estudou a condenação definitiva de Francisco Mairlon, o que se pode constatar é que ficou ele esquecido, invisibilizado. Não só na fase pré-processual, como também quando do julgamento de sua apelação", afirmou Flávia. "A única coisa invocada como lastro para a denúncia, para a pronúncia [envio ao júri popular], único elemento apresentado aos senhores jurados e usado também para manter a condenação foram confissões extrajudiciais", seguiu a advogada. Trechos dos depoimentos foram exibidos pela defesa. Neles, A advogada afirmou que Mairlon foi "quebrado" pelas múltiplas horas de depoimento, e foi dado como "réu confesso" mesmo sem ter admitido ter dado facadas ou ter entrado no apartamento do crime. "Não foi só ele, muitas pessoas podem ser 'quebradas' sob pressão policial. Abatidas, exaustas, desorientadas, muitas vezes privadas do sono, de boa alimentação. Depois de seis horas, a chance de alguém assumir a responsabilidade por um crime que não cometeu sob a falsa promessa de que vai ser liberado para ir para casa aumentar exponencialmente", defendeu. Francisco Mairlon Barros Aguiar em entrevista ao documentário "Crime da 113 Sul" Globoplay/Reprodução Os principais argumentos de defesa são: Confissões feitas sob pressão: Innocence Project aponta que as confissões de Mairlon e dos outros dois homens condenados foram feitas em um ambiente de pressão e manipulação por parte dos policiais. A confissão de Mairlon, segundo a ONG, foi extraída à força, após horas de interrogatório, sem descanso. Sem provas além das confissões: Mairlon foi condenado apenas com base na confissão dele feita na delegacia e jamais repetida em juízo e também nas acusações feitas pelo assassino confesso Leonardo Alves. Não há outras provas — como DNA, impressões digitais ou testemunhas — além da confissão. Retratação das acusações em juízo: as confissões feitas na delegacia pelos outros réus, Leonardo Alves e Paulo Santana (leia mais abaixo), foram corrigidas durante a fase judicial. Defesa cerceada: a defesa conseguiu acesso aos vídeos dos depoimentos do Paulo Cardoso Santana e de Leonardo Campos Alves em 2024 e eles nunca tinham sido devidamente analisados pelos juízes. De acordo com a defesa, os vídeos são essenciais para mostrar a realidade dos interrogatórios, a manipulação policial e a fragilidade da confissão de Mairlon. Os vídeos desses depoimentos foram exibidos em primeira mão no documentário "Crime da 113 Sul", lançado pelo Globoplay em fevereiro deste ano. 'Crime da 113 Sul': entenda em 5 pontos o recurso que pode anular a condenação de um dos executores Condenados como executores Três homens foram condenados pela execução do crime. Presos desde novembro de 2010, são eles: Leonardo Campos Alves: ex-porteiro do prédio onde o casal Villela morava. Em 2013, foi condenado pelo Tribunal do Júri a 60 anos de prisão; Paulo Cardoso Santana, sobrinho de Leonardo: em 2016 foi condenado a 62 anos de prisão pelo júri; e Francisco Mairlon Barros Aguiar: em 2013 foi condenado a 55 anos de prisão, pena reduzida em segunda instância para 47 anos de prisão. Mairlon morava no Pedregal, município de Novo Gama (GO), quando foi preso pela Polícia Civil de Brasília em novembro de 2010, um ano e três meses após as mortes. Crime da 113 Sul ganha série documental no Globoplay Foram assassinados no caso: o ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) José Guilherme Villela; a esposa dele, Maria Villela; a empregada do casal, Francisca Nascimento da Silva. As vítimas foram mortas a facadas dentro do apartamento onde moravam, na quadra 113 Sul de Brasília. Dólares e joias foram levados do apartamento na noite do crime, 28 de agosto de 2009. 'Crime da 113 Sul': STJ anula condenação de Adriana Villela por triplo homicídio Cronologia da investigação Mais de um ano depois dos assassinatos, em setembro de 2010, a Polícia Civil indiciou a filha do casal, a arquiteta Adriana Villela, como mandante do crime. Para os investigadores, Adriana contratou os assassinos para ficar com a herança. No momento do indiciamento de Adriana, porém, a polícia ainda não sabia quem tinham sido os executores do crime. Somente em novembro de 2010 a polícia descobriu o envolvimento do ex-porteiro do prédio, Leonardo Campos Alves. Ele havia trabalhado no condomínio por 14 anos e havia sido demitido seis meses antes do crime. Com a demissão, Leonardo passou a viver em Montalvânia, cidade no norte de Minas Gerais onde tinham familiares. Ao ser preso na cidade mineira, Leonardo confessou o crime. Ele afirmou que viajou para Brasília em 28 de agosto de 2009 e foi ao apartamento dos Villela para roubar — e não porque havia sido contratado. Leonardo relatou também que agiu junto com um sobrinho, Paulo Cardoso Santana, também morador de Montalvânia. Segundo essa primeira versão, Leonardo e Paulo tinham sido os únicos responsáveis pelas facadas e por levar os dólares e as joias do apartamento dos Villela. A investigação, então, mudou de delegacia. A partir de seu quinto depoimento à polícia, Leonardo alterou sua versão. O ex-porteiro passou a afirmar que foi contratado por Adriana — que lhe entregou os US$ 27 mil e as joias retiradas do apartamento — para simular um assalto e matar os Villela. Já a empregada Francisca teria sido morta para não deixar uma testemunha. Ao dar a nova versão, que foi a que prevaleceu na Justiça, Leonardo sustentou que não subiu ao apartamento, diferentemente do que tinha dito antes. Ele afirmou que quem subiu e deu as facadas foi seu sobrinho Paulo e um amigo, "Mairton" — que a polícia logo identificou como Francisco Mairlon. Infográfico - Veja linha do tempo do Crime da 113 Sul na Justiça Arte/g1 Vizinhos no Pedregal Mairlon havia sido vizinho de Leonardo e de Paulo no Pedregal em 2008 e no início de 2009, antes de o ex-porteiro ser demitido do prédio da 113 Sul e se mudar para Montalvânia com o sobrinho. Os três se conheciam do bairro. Filho de pais cearenses, Mairlon fazia entregas de gás no comércio da família, tinha aberto sua própria mercearia no Pedregal e estava casado havia alguns meses. A companheira dele estava grávida de oito meses quando ele foi preso. Mairlon só viu o filho uma vez, quando sua mãe levou o recém-nascido em uma visita na Papuda. Mairlon afirma que só admitiu à polícia que foi até a quadra 113 Sul junto com Paulo e Leonardo porque ficou com medo de os policiais ameaçarem sua esposa, que estava grávida. Durante todo o processo, na fase judicial, Mairlon sempre negou envolvimento com o crime. Não há no processo provas materiais de que Mairlon tenha estado no endereço dos Villela – ponto destacado pelo Innocence Project no pedido feito ao STJ. No caso de Leonardo e Paulo, diferentemente, existem provas materiais: a polícia localizou duas lojas em Montes Claros (MG), na região de Montalvânia, onde Leonardo vendeu as joias e os dólares que pertenciam aos Villela. Para a ONG Innocence Project, o ex-porteiro Leonardo envolveu Mairlon na história na tentativa de obter uma pena menor para si mesmo — quando disse que não entrou no apartamento, mas apenas ficou esperando embaixo do prédio. A polícia e o Ministério Público, por outro lado, afirmam que Mairlon confessou sua participação nas mortes em dois depoimentos prestados na delegacia. Mudança de versão Em 2024, após quase 14 anos na prisão, Paulo Santana mudou sua versão, admitiu que mentiu e incriminou um inocente – que é Francisco Mairlon. Ele afirmou que, na época, acusou Francisco porque foi torturado pela polícia. "Em nenhum momento eu entrei em contato com Francisco Mairlon. Francisco Mairlon não tem nada a ver com isso aí. Ele é inocente, entendeu? Ele é inocente. Ele foi levado em um processo a pagar por um crime que ele não cometeu. Ele está há 14 anos inocente. [...] Eles torturaram, eles fizeram tudo", afirmou Paulo Santana à ONG Innocence Project. Leia mais notícias sobre a região no g1 DF.

FONTE: https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2025/10/14/113-sul-voz-de-um-inocente-foi-escutada-diz-irma-de-francisco-mairlon-apos-stj-anular-condenacao-ele-passou-15-anos-preso.ghtml


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